sexta-feira, 24 de julho de 2015

O ciúme é um daqueles demônios que nos destrói aos poucos


Não há nada mais confortante do que uma noite calma, o barulho da chuva lá fora, um friozinho capaz de grudar os corpos como um Super Bonder e, no meio da madrugada, você ser acordado com um beijo no cangote seguido de um sussurrado ‘Eu te amo’ deixando-lhe aquela sensação única de que a vida vale a pena.

Melhor do que isso – só a digital.

Pela digital você aproveita o fato de ter sido acordado involuntariamente, sai de fininho da cama pisando com as pontas dos dedos como num desenho do Scooby doo (nem sei se ainda passa isso na TV, ou estarei entregando a minha idade), pega o celular ultramoderno do seu amor, aproxima o dedinho dele (a) e... Tcharaaaaam. Tela desbloqueada. Hora do check up semanal.

Vai pagar pra ver?

Aconteceu com uma pessoa bem próxima e acontece todos os dias desde que o ser humano colocou na cabeça que o amor é uma propriedade privada: é meu e ninguém tasca.

Pessoas ciumentas são inseguras, controladoras, nunca desligam o tal “prestador de atenção” que funciona como um radar supersônico e a finalidade é sempre pegar alguém com a boca na botija. Elas se pautam em contratos, acreditam que uma aliança cravejada de brilhantes é suficiente pra segurar qualquer relação e se não funcionar apelam pra joguinhos psicológicos, chantagem emocional, ou qualquer atitude mirabolante que impeça o outro de voar pra bem longe.

O gran finale do casal veio naquela noite em que a esposa aproveitou o ronco do marido pra xeretar as mensagens do Whatsapp dele. Lendo conversa por conversa, ela fatalmente ficou de frente com o inimaginável: ‘Não sei mais o que fazer, isso está me consumindo’. Ele planejava o divórcio por baixo dos panos. E não havia outra mulher em jogo – era uma escolha.

Aquilo foi como ter levado uma baita bordoada na cara. Logo ela que sempre esteve no controle de tudo, que passou os últimos anos fazendo inspeções olfativas nas suas roupas, procurando bilhetes nos bolsos, monitorando todas as mensagens das redes sociais sem que ele soubesse, sempre atenta para desviá-lo do caminho das piriguetes de plantão. Investiu todas as energias na fixação de mantê-lo protegido ao invés de se preocupar em ser uma companhia melhor.

O ciúme é um daqueles demônios que nos destrói aos poucos, como um cupim que vai consumindo a madeira até virar pó. E tudo, antes sólido, vira farelo vulnerável a um simples sopro. É como se ligassem um pisca alerta no inconsciente: você vai perder isso, você vai perder isso, você vai perder isso. E quase sempre perde. Os conselhos de avó são de uma sabedoria fora do comum: pássaro que vive em gaiola, quando solto, não volta nunca mais.

Sabe aquela pessoa que fica na porta de uma loja de departamentos oferecendo o cartão de vantagens da empresa? Ela é treinada pra nos convencer a aceitar a proposta de adesão. O nosso “não” ela já têm. Então se você diz “sim” logo de supetão, ela se perde, fica zureta das ideias porque isso não estava no script. O mesmo acontece com os ciumentos patológicos, no roteiro deles você está sempre tentando pular a cerca e em algum momento será colocado contra a parede sendo obrigado a assumir coisas que nunca fez. Mas se você muda as regras do jogo, assume uma traição na maior cara de pau, ou desiste de brincar de casinha... O mundo deles desaba. Para muitos, sentimento de posse é mais importante do que a própria traição.

O universo é maior que a nossa infantilidade esquizofrênica; essa mania de perseguição desenfreada, de achar que alguém quer tomar o que é nosso; a paranoia de que podemos levar um pé na bunda a qualquer momento. Esses pensamentos roubam a nossa tranquilidade, trazem um desconforto emocional difícil de conviver e acabam por afastar as pessoas que tememos perder de vista: o verdadeiro coquetel do diabo. Se um dia alguém decidir sair do relacionamento não há nada que possa ser feito, acredite. Tudo bem que isso pode não soar muito justo, mas o mundo é justo?

Existem caminhos e atitudes mais certeiras do que ficar se lamuriando, sofrendo por problemas ou coisas que nunca irão acontecer. O diálogo está morrendo, nunca fomos tão tristes e inseguros. Precisamos parar pra colocar a mão na cabecinha e pensar quantas regras ridículas a gente precisa passar pra estar com alguém: permissão de um juiz pra casar ou divorciar, o governo decidir se seremos ou não reconhecidos como instituição família, aceitar os amigos do outro que não foram com a nossa cara, enfrentar as contrariedades dos pais... Tudo isso pra depois ter crise de ciúmes e colocar tudo a perder?

O mais inteligente é tentar segurar a onda, amar sem ficar se torturando, abandonar as misérias mentais que ficam fabricando fantasmas, ter mais autoconfiança pra levar uma vida a dois sem se intimidar com a concorrência, honestidade para aceitar as próprias limitações e entender que quando alguém nos acorda na calada da noite com um ‘Eu te amo’,  isso significa “Não quero te perder”. Desconfiar de um sentimento é arremessar a felicidade pela janela – é ser um chato de galochas.  

Bruno de Abreu Rangel
brunoranelbrazil@hotmail.com

sábado, 18 de julho de 2015

As verdades secretas dos garotos de Ipanema

Saiba o que ninguém nunca teve a coragem de dizer



Pode até parecer que eu esteja incentivando a ira, destilando um veneno bem amargo, pegando carona no bonde dos invejosos e recalcados. Mas não, estou apenas listando alguns dos desabafos que venho colecionando dos meus leitores ao longo desses últimos meses. Antes de jogar a m*rda no ventilador conscientizei-me de que qualquer verdade, por mais secreta que seja, tem duas versões: a minha e a sua. Tudo está atrelado ao bendito ponto de vista.

Dois garotos estão vendo a praia de Ipanema pela janela, um enxerga um paraíso natural onde se pode respirar a liberdade, ser o que você quiser, se apaixonar pelo mar, se refrescar com água de coco e quem sabe matar a sede de amor; o outro enxerga um cartão postal com um desfile de sarados que se sentem o crème de la crème, famintos por sexo, viciados em reconhecimento e vislumbrando a possibilidade de tirar algum proveito.

 E você, o que enxerga através da sua janela?

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Uma agência de modelos a céu aberto: será mesmo? Tenho as minhas dúvidas. Sem querer simular a teoria do caos, mas o que aconteceria se os anabolizantes desaparecessem do mercado? Não ia sobrar meia dúzia de galãs pra contar história. Enquanto isso, muita gente segue acreditando que ter um amigo fotógrafo e algumas fotos tratadas vai ser suficiente para tornar-se numa “Angel” da Victoria's Secret. Book rosa? Que nada, são 50 tons de cinza mesmo e com direito a chibatada, chave de braço, sexo selvagem – tudo 0800. Até que a ficha caia ficamos nós, com cara de paisagem, dividindo o calçadão da praia com esses modeletes que desfilam com o ar da Gisele e a conta bancária de um Zé Ninguém.

Vaginas: está faltando originalidade na turma dos boys machões. Fazer uma série de esportes radicais, com direito a trilhas na pedra da Gávea que renderão fotos da série lek-brother? Isso já é coisa do passado, o lance agora é o Universo Paralelo. E além de eles estarem sempre batendo cartões nas festas e raves com seus óculos escuros, cordões de prata que pesam mais do que sucata de ferro velho e tatuagens que decoram todo o corpo ultra bombado, estão constantemente acompanhados por uma “racha” linda de causar inveja, podem reparar - mas procriar com elas que é bom – ninguém quer. Não se enganem a finalidade das vaginas por perto é disfarçar a insegurança que ficou perdida lá no armário. O que se passa na cabeça de um gay que acredita ser hétero e se apresenta como superior aos demais? A pior parte é que nessa galáxia em expansão chamada Ipanema, você chuta um coqueiro e caem uns dez com esse perfil.

O pavor em falar sobre o HIV: nos países mais desenvolvidos, antes das pessoas partirem pros “finalmentes” é de praxe alguém perguntar: você é soropositivo? Isso não quer dizer que ela desconfie de você e muito menos significará a sua sentença de morte.  Mas no Brasil, o temor dos anos oitenta ficou tão impregnado que muitos chegam a parir um filho quando são questionados sobre qualquer DST. Basta olharem nas redes sociais, postagens sobre a nova balada de Sábado: 185782948392 curtidas; a cura da AIDS: 14 curtidas e um ‘adorei o artigo’. Ipanema é um elevador gigante, um entra e sai muito louco, todo mundo se conhece e para em todos os andares. É muito importante ficar atento porque o que nos leva à cobertura também nos manda pro subsolo. Se em algum momento você se descuidou, o mais plausível é fazer um exame e ficar de bem com a consciência.

A necessidade de serem os mais belos: é difícil para a grande maioria entender que às vezes vamos dobrar a esquina e dar de frente com alguém mais bonito do que a gente, nem que seja 2% a mais, mas aceita – dói menos. Em tempo, é bom lembrar que a beleza está muito além de um rostinho bonito e uma barriga cortada. Algumas pessoas se destacam naturalmente sem precisar fazer força: têm carisma, magnetismo, brilho próprio... E não adianta aumentar as doses cavalares de Whey Protein, isso não está à venda, nasce com a pessoa.  Então é melhor entrar num acordo com o espelho e entender, de uma vez por todas, que a vida não é um circuito de Barcelona porque um dia, do nada, a gente vai acordar e enxergar o reflexo de uma pessoa amargurada, que perdeu a juventude desperdiçando tempo tentando ser um pouco mais notado.

Anuptafobia (o medo de estar solteiro): não é só a palavra que é difícil, a situação de quem sofre isso também. São pessoas que vivem a procura de motivos pra cortar os pulsos porque não conseguem lidar com a própria companhia. Ficam quicando de festa em festa, experimentando paixões aditivadas, tendo aventuras amorosas mais rápidas que um ciclo de anabolizantes e terminam com o coração e o fígado - estraçalhados. Gente de mente inquieta, de emoções confusas, que são tomadas pelo terror da casa vazia, que perdem as estribeiras quando alguém decide ir embora da relação porque começar tudo de novo é decepção de dar pano pra manga – ou pra camisa de força. Pra fugir das gotinhas de Rivotril o garotão de Ipanema sempre dá o seu jeito: arruma uns peguetes da espécie ventania, só pra quebrar o galho mesmo.

A vergonha de assumir o papel sexual: ser passivo não torna ninguém menos homem. Isso é uma herança machista de uma sociedade preconceituosa da época em que azul era para meninos e rosa para meninas. É preciso resetar o cérebro pra não cair na cilada de achar que o ativo é o macho da relação, isso é uma tremenda armadilha em que a isca da ratoeira será você mesmo. O mais comum é ver alguns infelizes se dirigindo aos passivos como “ela”, se colocando num degrau acima porque no passado mamãe ensinou que quem planta a sementinha é o papai. Sexo tem que ser algo sublime, a gente não tem que se envergonhar do nosso papel seja ele A, B ou AB. É por essas e outras que algumas relações ficam pouco tempo em cartaz. A pessoa cria um personagem de que é o Ricardão pegador e com o passar do tempo se vê travada com um texto decorado, sem se permitir ao improviso, sem o desembaraço de assumir novos papéis indo em direção ao fracasso de bilheteria.

O desfecho não é lá um dos melhores. Com esse boom imobiliário, o preço do metro quadrado foi lá nas alturas e a galerinha que tinha “mais pompa do que circunstância” desapareceu na velocidade da luz. Os novinhos entraram em extinção e os garotos que permaneceram já passaram dos 30, estão mais pra paizões (apesar de grande parte ter dificuldade de aceitar isso). Será que Ipanema está com os dias contados?  Se conseguirmos um ingresso para o túnel do tempo, veremos que há alguns anos Copacabana era a princesinha do mar, abarrotada de gente rica, bem criada, de gatas e gatos – hoje velhinhos, que caminham pelo bairro com um saudosismo de dar gosto, porque uma coisa é certa: eles também tiveram as suas verdades secretas, no entanto gozaram da sorte de viver numa época em que as pessoas eram mais acessíveis e menos virtuais.


Bruno de Abreu Rangel


quarta-feira, 8 de julho de 2015

A casa caiu para os mafiosos da fé

Entenda por A + B porque eles rejeitam gays



Não digo ‘amém’ pra tudo que escuto, mesmo porque ninguém tem respostas pra tudo. Todas as religiões têm suas teorias sobre a morte, céu, inferno... Mas nenhuma certeza nos é garantida. A nossa única segurança é o espaço de tempo entre a maternidade e a funerária, e é melhor que saibamos aproveitar essa oportunidade dada pelo “Cara lá de cima”. A maioria das pessoas que conheço não tem a menor ideia do significado do milagre que é essa coisa chamada de vida. Então fica fácil condicioná-las, criar um terror em suas mentes com a desculpa de que a única salvação virá através de um Deus que só concede a entrada no céu através de um pagamento adiantado: dez por cento da sua renda até o fim dos seus dias e você tem direito a um bate papo com o Altíssimo.

Nem os bancos lucram tanto.

Mas o assunto é homofobia religiosa. E até onde sei esses pastores viciados em holofotes nunca repudiaram os gays, jamais hesitaram fechar as portas para os drogados, ex-traficantes; não julgaram os ex-detendos, os assassinos em série, as pessoas que cometeram o maior dos pecados. A grande jogada de marketing era alcançar um nicho do mercado que a igreja católica vinha perdendo ao longo dos anos (depois de queimar muita gente nas fogueiras da Inquisição, já estavam mais do que queimados na praça). Então a tática foi um tanto quanto óbvia: qualquer pecador que entrasse nos seus templos e se convertesse num servo de Deus receberia um carnê invisível para pagar em “suaves” prestações a sua morada no céu e, assim feito, zeraria o cronômetro. Tipo tirar o nome do SPC, ou SPCéu. “As pessoas pecam tanto que depois viram evangélicas”, o próprio Sílvio Santos teve esse momento de desabafo.

A lavagem cerebral é tão bem arquitetada que sei de casos em que pessoas tiram comida da boca dos filhos pra comprar a tal vassoura ungida de mil reais que varre todo o mal de suas vidas.  Tem muita gente se aproveitando da desgraça alheia usando Jesus como cartão de crédito. Verdadeiros lobos em pele de cordeiro tentando arrancar até o que as pessoas não têm pra se enriquecerem.

E não para por aí, a bancada evangélica, ao expor todas as formas de pecado, pisou fora quando tratou a homossexualidade como uma doença deturpada do espírito, ou melhor, da alma – porque eles também não suportam e nem mesmo respeitam as doutrinas que acreditam em vida após a morte.  Mas eles estavam afoitos para atrair o público arco-íris que tem um elevado poder aquisitivo. Por não constituírem família os gays não têm despesas com filhos, escolas, material didático e uma série de custos que os colocam no topo de consumidores em potencial: viajam de primeira classe, passam férias na Europa, usam grifes caríssimas, perfumes importados, fazem tratamentos estéticos com peeling de ouro...  

Quem não quer esses clientes? O Boticário quer, a Leite de Rosas, a Coca Cola, o Facebook, a Louis Vuitton e outras grandes empresas como a própria Universal e a Assembleia de Deus – mas o tiro saiu pela culatra. O “Avivamento”, campanha de captação de fiéis (lê-se clientes) tão bem sucedida, até aquele momento, falhou quando os militantes homossexuais entraram em cena e deram a cara pra bater. Aí toda aquela conversa de “Amar ao próximo como a si mesmo” terminou num balaio de gato.

E tudo o que se vê desde então é uma batalha Gospel-glbt. É boicote à novela, à propaganda de TV, à marca X, Y,Z, pedrada – violência - caixão. E fico tentando imaginar como os evangélicos se posicionam quando o cabelereiro é gay. Quando o maquiador do próprio casamento tem trejeitos, quando o comissário de bordo da primeira classe tem uma finesse mais apurada, quando homens com uma tremenda sensibilidade despendem do precioso tempo pra confeccionar um vestido que sai de um ateliê lá da França e vem parar nos seus closets tupiniquins. E os escritores, jornalistas, atores, toda a turminha que sustenta a própria TV evangélica? Vão boicotar essa galera também, ou vão compactuar com o diabo?

Vamos deixar essa lição como dever de casa. Quem assumir a hipocrisia leva um 10!

Muito nos surpreende o fato de que a nossa vida entre quatro paredes possa incomodar tanto. A alta patente cristã poderia estar se preocupando mais com os cracudos da Cracolândia, preenchendo o tempo com projetos sociais que pudessem tirar crianças das ruas, salvar os brasileiros abaixo da linha da pobreza que se multiplicam tanto quanto o número de fiéis, mas não - eles querem fiscalizar a sexualidade alheia - propagando discursos de ódio, usando Jesus como testa de ferro pra justificar o mal que existe neles, criando exércitos com um grupo de alienados que estão sendo adestrados para um futuro atentado aos direitos humanos. Bem vindo ao novo Estado Islâmico, versão tupi guarani. Já não vimos esse filme antes? A história do mundo se repete (fanatismo religioso X crueldade). E dessa vez o cenário é no lado de cá, no país do Pau Brasil – ou da mandioca.

Estejamos atentos, porque os mafiosos da fé alheia já se infiltraram no Congresso Nacional e estão se aproveitando da bagunça de Brasília pra se fortalecerem; firmarem pactos com partidos que nem o diabo ousaria tentar; apertar as mãos daqueles que fecharão os olhos para as suas tramoias fiscais capazes de sustentar pilares como o templo de Salomão, inúmeras vezes maior que o original. Se esse Cristo que eles tanto pregam realmente existe, deve estar no plano celestial arrancando os cabelos e pensando que sua vinda ao planeta Terra foi uma grande perda de tempo porque, apesar de muita gente ter pulado esse parágrafo, a Bíblia é bem clara: “A boa reputação vale mais que grandes riquezas”. (Provérbios 22:1) E com essa me despeço.

O meu louvor vai para os evangélicos que, com suas crenças, seguem em direção à luz, aos que vivenciam os ensinamentos de Cristo ocupando o coração com alegria, sendo instrumentos do bem e erguendo as mãos aos necessitados sem dividir uma coisa a outra, sem aquela preocupação mesquinha de orar em troca de uma casa num condomínio de luxo, ou num lugar onde se tem harpas e cisnes brancos.


Bruno de Abreu Rangel