segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O que há de errado com os garotos de Ipanema?




O Morro Dois Irmãos é testemunha:

–  Oi, você conhece esse garoto aqui? (Foto enviada)
–  Não, por quê?
–  Você sabia que ele está passando HIV pra geral?
–  Como assim? Deixa eu entender, ele te passou HIV?
–  Não, claro que não!
–  E como você sabe que ele é soropositivo e está contaminando todo mundo?
–  Um colega me contou...
 
‘Um colega me contou’, fofoca, disse me disse, comentários maldosos e desgosto com a felicidade alheia só tem dois significados: falta de amor, ou inveja.
Agora escutem mais essa, parece inacreditável.
 
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Um bando de saradões está na praia de Ipanema comentando sobre a última festa e um deles (o menos beneficiado pela beleza), mostra um vídeo em que pegou “no flagra” dois rapazes tentando fazer bebê em plena pista de dança - ambos completamente fora de si, óbvio.
 
Os queridinhos do Rio -  como se nunca tivessem dado um rolê nos banheiros da vida - dão risadas, acham o máximo e pedem que encaminhem o malfeito por WhatsApp, que vai parar no celular da barraca ao lado, que chega ao Arpoador, que volta até o Coqueirão, respinga em Mykonos, rebate na Avenida Paulista e termina na timeline do Facebook fazendo o dia das pessoas mais infelizes da Terra valerem a pena porque, acreditem, muita gente só se sente maior tentando diminuir o próximo. Até que um dia chega a vez deles, o famoso bate e volta que o próprio universo se encarrega de ajeitar. Daí é glup glup: a fofoqueira da praia se afoga nas próprias palavras.
 
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O que há de errado com os garotos de Ipanema? Em que momento um lugar tão democrático virou palco de guerra?
 
Esses exemplos de comportamento primitivo vêm de uma estrutura familiar falida da nossa geração. Crianças mimadas que cresceram adestradas por elogios em excesso, ouvindo o tempo todo que eram especiais e recebendo estrelinhas na testa quando faziam coisas que não passavam da própria obrigação. Jovens que tiveram tudo de mão beijada (o que não significa que tinham dinheiro), e tornaram-se adultos narcisistas, sem foco, sem planos de vida a longo prazo; pessoas amargas prontas para atacar o vizinho que tem a grama mais verde, a barriga mais sarada, o namorado mais bonito -  porque não aprenderam a perder, não vivenciaram o fato de que também há felicidade para os que chegam em segundo lugar.
 
Hoje, o garoto de Ipanema quer apenas causar impacto. Está na praia se sentindo especial, a majestade, anda pelo calçadão com o nariz empinado e olha as pessoas ao seu redor de cima pra baixo. Trata tudo e todos como meros figurantes, como parte de um cenário onde ele é o personagem principal. A questão é que todos pensam e agem da mesma forma. E o que acontece? Guerra de egos, falta de empatia e um falatório sem sentido que agrega zero valores à nossa vida.
 
Pouco importa o que o outro faz, ou deixa de fazer. O que não falta nesse mundo é gente desinteressante se comportando como DIVA (Departamento de Investigação da Vida Alheia). Gente que fica de prontidão esperando o nosso primeiro deslize para propagar a mágoa e o ódio que existe dentro de si. Fofocam aleatoriamente para compensar o fracasso, a falta de novidade, para esconderem o monstro que são através de palavras indigestas, roupas de grife, ou de corpos transformados pelos venenos da moda.
 
A Ipanema de antes era um refúgio para o mundo cruel das pessoas que se sentiam sufocadas por serem gays; era um paraíso com um pôr do sol sem filtro, rolava pegação sim, mas também rolavam casamentos, firmavam-se amizades verdadeiras; biscoito Globo não engordava e se engordasse ninguém morria por isso, dava para ter uma barriguinha sem se sentir um alienígena. E nas areias, menos estupidez e mais alegria.
Não dá para voltar no tempo, mas dá pra ser uma pessoa melhor!
 
Bruno de Abreu Rangel

Meninos da pegação: Perfis que só te fazem perder tempo





O amor, dos dias de hoje, virou pizza. A gente pede por telefone, no conforto da nossa casa e, na maioria das vezes, não comemos sozinhos. E se não estiver boa, se esfriar, a gente joga fora e pede outra. Tem gente que liga e dá “piti”; tem aqueles que pedem outro sabor; tem alguns que comem, lambem os dedos e ainda ficam insatisfeitos; há, também, os que simplesmente se lembram da dieta e terminam numa ressaca moral difícil de conviver (isso que dá sair comendo qualquer coisa).
 
Nesse festival de pizza, ou de amores que não interagem, há um leque de comportamentos que é bom estarmos cientes. A pegação do século XXI já foi baixada e atualizada. Que tipo pessoa você se tornou?
 
O devasso prático: esse é aquele sujeito que tem as taxas hormonais acima da média e, normalmente, o seu ciclo de anabolizantes é bem maior que o ciclo de amizades. Quando sai para caçar, pergunta o tamanho do documento antes de dar bom dia. Ele tem pressa, o seu tempo é precioso e se você ousar ter um diálogo ele te bloqueia imediatamente – sem titubear. Cada like vale uma transa e quantidade, no seu dicionário, vem antes de qualidade. O seu maior medo? Um hemograma completo.
 
A romântica do aplicativo: vamos por partes, se o aplicativo é de pegação por que cargas d’água a pessoa aparece as 5 da manhã querendo encontrar uma alma gêmea? Esse tantã das ideias, já de cara, coloca um textão no perfil dizendo que é pra casar, que quer adotar 5 filhos, andar de mãos dadas nas areias brancas da Tailândia como Angelina Jolie e Brad Pitt, depois aparece, transa que nem hiena no cio e no dia seguinte nem dá sinal de vida: blá-blá-blá.
 
O teclador libidinoso: esse geralmente sobrevive no interior de uma cidadezinha onde não há nada além de Wi-Fi. O seu sonho, além de sair do fim do mundo, é transar com todas as pessoas disponíveis na Internet. Tecla sem parar, muito papo, muito nudes e sexo virtual a torto e a direito. Marca com todo mundo, diz que vai fazer isso, aquilo... e morre na praia. Geralmente ele é gato, sensual, pele saudável (virgem de drogas) e uma leve expressão de inocência. Mas é pisar num grande centro que o anjinho da roça vira um capeta. Pega todo mundo que ele vê na rua, exceto aqueles que teclaram com ele nos últimos 57 meses.
 
O mascarado fake: existem dois tipos de fake e ambos usam a falsidade como uma forma de se esconderem. O primeiro é aquele curioso que está fora dos padrões estéticos e se camufla atrás de fotos de modeletes só para descobrir a real identidade das pessoas, o que elas fazem ou deixam de fazer; o segundo é aquele enganador comprometido que manda fotos de alguém que se parece com ele, porque precisa fazer tudo na encolha, precisa ser “discreto”. A diferença entre um e outro? O primeiro leva uma porta na cara e o segundo te faz ficar com cara de porta: ‘Aí brow, a parada tem que ser no sigilo, já é? Tenho namorado...’
 
Esse universo on-line não é moleza. Ninguém tira os olhos do celular por um minuto, que seja. Tem gente que consegue ver clima de azaração até no enterro da avó. A grande maioria perdeu a originalidade, se vendeu para a pegação cibernética. Só sabem falar sobre putaria, respondem como estão em 3 palavras e o papo já faz aquela curva. Você fica ali deslocado sem saber onde encaixar um assunto interessante. Estamos chegando num patamar de frieza e superficialidade tão extrema que ficamos naquela dicotomia: temos bilhões de likes no mundo virtual e na vida real estamos sozinhos, nos contentando com um sexo fabuloso, mas vazio. 
 
Faz parte do nosso instinto marcar território, sair pegando geral, se gabar com os peguetes que tem o rosto e o corpo no lugar, mas no fundo a gente quer mesmo é ter uma história de verdade. E por que fracassamos? Porque assim que terminarmos esse texto vamos correr para o nosso celular para curtir um montão de pessoas lindas, felizes e bem-sucedidas – tudo fake.

Bruno de Abreu Rangel